Conto de Tío Conejo

voltar aos contos 25 de novembro de 2021

Diz que certa vez o Tío Conejo achou de comer as melancias do Rei. Acontece que um dia quando o Rei partiu uma melancia na mesa, só encontrou cocô de coelho. De tão bravo, pediu imediatamente a cabeça do bicho que estava devorando o seu melancial.

Os empregados da roça do Rei fizeram um boneco do tamanho de um homem, untaram inteirinho com cola e o colocaram na entrada do melancial com a melhor e maior melancia nas mãos. Logo, o Tío Conejo chegou todo pirueta e disse: 

“Ei, que tá fazendo? Me dá esta melancia aí, pois é essa mesmo que vim pegar.”

Claro que o boneco não respondeu… o que ele iria fazer? O coelho se zangou e disse:

“Você não vai me responder, né? Pois agora mesmo é que você vai me dar essa melancia.”

E deu um tremendo soco no boneco, mas acabou preso com a mão. Furioso, ele bateu com a outra mão, e acabou preso com as duas mãos. Já um pouco assustado, mas ainda bravo, ele virou com dois pontapés no boneco e ficou preso também com as patas traseiras.  Inutilizado das quatro patas e tentando se desgrudar, acabou preso também com a barriga. Se debatendo como podia não sobrou alternativa senão a de cair no choro. Enquanto isso passava por ali a Tia Raposa que parou e perguntou:

“Tío Conejo, qué le pasa? Por que esse chororô?”

E o Tío Conejo respondeu: 

“Olha a situação em que me encontro. De outro jeito eles não teriam sido capazes de conseguir o que querem fazer comigo.”

“E o que querem fazer com você, Tío Conejo?”

“Ah, bem, a filha do rei se apaixonou por mim e insiste em se casar comigo, mas eu não quero! E, para piorar, o Rei disse a ela que hoje ela se casa de qualquer jeito com o primeiro que encontrar e olhar. Então, ela ordenou que me capturassem e me colocassem assim pra quando ela aparecer eu não ter escolha.”

“Bem, eu me casaria”, disse a Tia Raposa. E continuou: 

“Então, se você quiser, eu te desprendo daí e me prendo pra esperar a princesa chegar.”

“Bem, você pode sim, faça isso já que eu vou correndo pra casa me encontrar com a minha coelhinha!”

E assim, a Tia Raposa liberou o Tío Conejo e se prendeu em seu lugar. E quando o coelho já saltitava lá longe, ela se deu conta de que já estava cercada pelos empregados do Rei prontos para transformá-la em chouriço.

ZARATE, Dora P. Cuento popular andino. Quito: Instituto Andino de Artes Populares del Convenio “Andrés Bello”, s/d, pp. 28-29.