Conto de Pedro Malasarte

voltar aos contos 25 de novembro de 2021

Pedro Malazarte se ajustou numa fazenda para criar porco. Um dia ele estava picando inhame pra porcada, pareceram de passagem uns tropeiros e perguntaram de quem era aquele gado, se ele queria vender, e que botasse preço.

“Apois eu vendo, que tenho a criação é pra negócio. Está tudo gordo relumeando. Mas, porém, eu só vendo sem rabo.”

“E pra que que nós queremos rabo de porco, me’irmão?”

Malazarte pegou os rabinhos e enterrou num brejo, perto da cova, e foi correndo chamar o patrão que os porcos estavam se enterrando no brejo. O patrão foi ver, e disse pro Pedro:

“Vai lá em casa e pede dois enxadões pra minha mulher.”

“Sim, senhor, é pra já.”

Chegou lá e disse pra fazendeira:

“Seo Fulano mandou a senhora entregar dois contos de réis.”

E como a mulher estava duvidando, chegou na porta e gritou lá pra baixo, onde estava o patrão:

“O senhor não mandou buscar dois? Pra entregar dois?”

E o homem, lá de baixo, gritou de volta:

“Dois! Traz depressa.”

Daí o Pedro pegou os dois contos, saiu na chispada por ali afora e ninguém mais soube dele.

GUIMARÃES, Ruth. Calidoscópio: a saga de Pedro Malazarte. São José dos Campos: JAC Editora, 2006, p. 92.