Conto de Pedro Malasarte
voltar aos contosPedro Malazarte se ajustou numa fazenda para criar porco. Um dia ele estava picando inhame pra porcada, pareceram de passagem uns tropeiros e perguntaram de quem era aquele gado, se ele queria vender, e que botasse preço.
“Apois eu vendo, que tenho a criação é pra negócio. Está tudo gordo relumeando. Mas, porém, eu só vendo sem rabo.”
“E pra que que nós queremos rabo de porco, me’irmão?”
Malazarte pegou os rabinhos e enterrou num brejo, perto da cova, e foi correndo chamar o patrão que os porcos estavam se enterrando no brejo. O patrão foi ver, e disse pro Pedro:
“Vai lá em casa e pede dois enxadões pra minha mulher.”
“Sim, senhor, é pra já.”
Chegou lá e disse pra fazendeira:
“Seo Fulano mandou a senhora entregar dois contos de réis.”
E como a mulher estava duvidando, chegou na porta e gritou lá pra baixo, onde estava o patrão:
“O senhor não mandou buscar dois? Pra entregar dois?”
E o homem, lá de baixo, gritou de volta:
“Dois! Traz depressa.”
Daí o Pedro pegou os dois contos, saiu na chispada por ali afora e ninguém mais soube dele.
GUIMARÃES, Ruth. Calidoscópio: a saga de Pedro Malazarte. São José dos Campos: JAC Editora, 2006, p. 92.