Por um Império da Flor de Lis
voltar às notíciasPalestra de abertura do 12.º Encontro Internacional Boca do Céu de Contadores de Histórias “Ecos da lusofonia nas linguagens populares brasileiras”
Amon Pinho realizou estudos pós-doutorais em Filosofia pela Universidade de Lisboa e doutorou-se em História pela Universidade de São Paulo. É Professor Associado nos Institutos de História e de Filosofia da Universidade Federal de Uberlândia, Pesquisador Associado no Centro de Filosofia da Universidade de Lisboa e diretor da Cátedra Agostinho da Silva UFU de Estudos Humanísticos, elemento da rede internacional de docência e pesquisa do Camões – Instituto da Cooperação e da Língua, de Portugal.
Por um Império da Flor de Lis.
Ou sobre os não-europeísmos universalistas e utópicos da cultura popular tradicional luso-afro-ameríndio-brasileira.
I. Um pensar-sentir por imagens
Se o que aqui se publica é um texto originalmente concebido como palestra de
abertura do 12.º Encontro Internacional Boca do Céu de Contadores de Histórias, e se o nome desse encontro em que nos encontramos é este, Boca do Céu, faz sentido que no céu, de algum modo, já agora nos ponhamos.
É noite… Uma noite clara, translúcida, de poucas nuvens e, ao que parece,
inebriante lua cheia. Não vemos a lua, mas o reflexo da sua luz no azul-marinho das águas. E sabemo-la cheia. À terra, não vemos mulheres ou homens, seres tão curiosos,mas rastros luminosos da sua presença sobre o solo dalguma parte do globo. E sabemo-los presentes. Do passado vindos, para algum futuro rumando. Daí fundo respiramos… Em sentido pleno. E tudo, natureza e cultura juntos, em momento assim único, se nos afigura tão bonito e delicado, tão digno de nota, que nos pomos a contemplar, pensar e reescrever.
No princípio de tudo era o Lógos, já se o disse. O verbo, a palavra, a linguagem.
Neste nosso vislumbrante princípio aqui é uma imagem. Uma fotografia.
Etimologicamente, uma escrita da luz. Uma linguagem da luz. E mais: luminosa.
Há então uma imagem. No começo, há uma imagem. E imaginação poética e
filosófica. Uma imagem noturna feita a partir de satélite em primeiro plano, na qual podemos visualizar duas porções de terra e duas porções de água, que, ao mesmo tempo, se separam e interconectam por meio de um estreito.