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Ressonâncias e Repercussões: Cíntia Moreira

voltar às notícias 7 de maio de 2021
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Neste texto, Cíntia Moreira relaciona os movimentos 6, 8 e 11 debatidos ao longo do Boca do Céu nas Nuvens 2021.

 

Se eu paro um bocado…

 “(…) no galpão um homem comprido de uma quente morenês com a pele bem sapecada pelo sol desse país, tocava uma sanfona uma mazurca tão linda que se parava um bocado o ouvido cantava ainda”. (A lenda do céu – Mário de Andrade)

Eu queria ser dona de palavras certeiras, construtoras de frases poéticas e lindezas que as pessoas pousam os olhos e não se esquecem nunca mais. Acontece que elas me escapam feito sabonete numa mão já muito enrugada de tanta água de banho. Não me obedecem. Pulam de um lado para o outro como saltadeiras teimosas. Queria contar para quem não ouviu, como meus ouvidos ainda escutam o ecoar dos tantos movimentos do Boca do Céu nas nuvens. Participei de todos, corria de um lado para o outro como num grande quintal virtual, feito criança feliz que estava dona do seu tempo e pode usá-lo de forma preciosa, ouvindo, cantando, brincando. Foram tantos sorrisos, tantos encontros, tantas lágrimas que precisaria de um pote mágico para guardá-los. Espera lá, eu tenho um, esse que vibra no peito, que descompassou muitas vezes ao longo da semana… esse meu pote mágico, meu coração, que ficou abastecido de amorosidade com tanto encantamento. 

Levei caderno e uma lapiseira de estimação. Levei olhos atentos e vontade de aprender. O que aconteceu foi que, muitas vezes, me esqueci de escrever, de tanto que meus olhos se demoravam e se perdiam na tela. Eu até me esquecia que estávamos distantes. Cada palavra escutada, foi acolhida e encontrou morada interna. Ou porque dava a mão para uma memória, ou porque fazia sentido e grudava em mim, como diz sabiamente a Regina. 

Enquanto penso nas revoadas que os movimentos fizeram no meu eu mais profundo, aquele que sabe por que vim a esse mundo, mas que trava batalhas gigantes para chegar ao sol, de repente conecto dois de forma especial. No movimento 10, que foi chamado de Tradições orais em pesquisa: Experiências recentes de “ida ao povo”, a palavra que gritava em mim, que fez minhas lágrimas rolarem tantas vezes foi “coragem”. Coragem significa “a bravura que vem de um coração forte”. Enquanto eu ouvia os relatos dos caminhos percorridos pelos narradores/pesquisadores, de seus encontros, das dificuldades, dos medos, dos enfrentamentos, das procuras, meu coração vibrava e repetia a voz da Regina “E se fosse possível?” Esse tremor que abalou meu chão seguro das boas justificativas, que me prendem com amarras invisíveis e foi imediatamente conectado no dia seguinte com o Movimento 11, o Fórum “Em direção ao próximo passo”. Ali, na possibilidade da troca, da partilha com outras mulheres contadeiras, lindas contribuições arremataram um tecido bordado ao longo de uma semana. Foi ali, que assumi publicamente meu grande desejo de conexão, de me sentir parte de uma turma, de conhecer e de reconhecer. Naquele derradeiro movimento contei que me sentia só, que não sabia onde alimentar minha coragem para dar as mãos ao meu propósito da forma mais verdadeira possível. Ali, nos minutos contados, com um mundo de reflexões que faziam belisquinhos em minha cabeça, eu me senti dentro. O Boca do Céu foi para mim um corpo inteiro de afagos e de encontros que estão aquecendo minha coragem. “E se eu paro um bocado, o ouvido escuta ainda…”