José Jorge de Carvalho
voltar aos CONVIDADOSJosé Jorge de Carvalho, professor de Antropologia da UnB, pioneiro na criação de políticas afirmativas, isto é, inclusão de estudantes e docentes afrodescendentes e indígenas nas universidades brasileiras e latino-americanas, é o diretor do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia de Inclusão no Ensino e na Pesquisa (INCTI), ligado ao Ministério da Ciência e Tecnologia.
De formação heterodoxa, o professor transita por diferentes áreas de conhecimento, desde a Física, sua vocação inicial, passando pela Música, Poesia, Religião, Filosofia, Matemática e, obviamente, Antropologia. José Jorge de Carvalho possui PHD em Antropologia Social pela The Queen’s University Of Belfast e, além da UnB, onde fez a graduação, acumula em sua trajetória passagens por diversas universidades estadunidenses e latino-americanas.
Como pesquisador, José Jorge de Carvalho considera que a base de sustentação das ações afirmativas para inclusão de afrodescendentes e indígenas é transdisciplinar, pois se apoia em dados estatísticos, modelos matemáticos de análise dos dados, aliados aos dados sociais, históricos, econômicos e políticos.
Além de elaborar o arcabouço teórico, José Jorge de Carvalho, propõe ações fundamentais, ancoradas na tríade pensar-sentir-fazer, para incluir os saberes tradicionais no ensino e na pesquisa no interior das universidades brasileiras.
O Programa Encontro de Saberes instituído na UnB, por exemplo, inspirou universidades no Brasil, como o Programa de Formação Transversal em Saberes Tradicionais da UFMG. Sua concepção teve origem na percepção, de José Jorge, da ausência dos saberes tradicionais no ensino universitário. Iniciativa do INCT, que foi criado em 2008, o Encontro de Saberes nas Universidades Brasileiras é um espaço de experimentação pedagógica e epistêmica, que resgata saberes e produz inovações que beneficiam mestres e mestras, professores e estudantes. É um projeto que almeja o diálogo entre o saber universitário, formal, letrado, da academia, e o saber tradicional cujo princípio é a oralidade, através da disciplina Artes e Ofícios dos Saberes Tradicionais. Do início na UnB, em 2010, o projeto expandiu-se, para UFMG, Federal do Pará, Federal de Juíz de Fora e Sul da Bahia. Em 2015, ampliou-se para as federais do Rio Grande do Sul, do Cariri, Espírito Santo e Federal Fluminense e tem projeção para adesão de mais dez universidades em todo o Brasil.
Para José Jorge, a surpreendente eficiência didática dos Mestres e Mestras dos Saberes Tradicionais do Canto, Dança, Medicina, Construção, Espiritualidade e Música nas salas de aula universitárias, através do Encontro de Saberes, resultou da articulação entre o campo da luta de cotas e o campo da inclusão. Iniciativa que congrega estudantes, quilombolas, indígenas e população de baixa-renda com os mestres dos saberes de suas culturas tradicionais.
O êxito do Encontro de Saberes evidenciou que é possível que Mestres e Mestras, sem nenhuma formação no mundo letrado, isto é, mestres da oralidade, ensinem no ensino universitário formal.
O Encontro de Saberes na UnB, diferente das outras instituições federais, levou à universidade, mestres de todas as regiões do país – como o mestre Maniwa Kamayurá ( especialistas em Construção Tradicional Xinguana), mestra Lucely Pio (Medicina Tradicional), mestre Zé Gerome (de Congado e Moçambique); mestre Bil Alexandre (de Cavalo Marinho), mestres Álvaro e Casimiro Tukano (Espiritualidade e Política) – revelando uma pequena parte da imensa diversidade de saberes e modos de sentir, pensar e fazer existentes no país.
Bibliografia:
Cantos Sagrados do Xangô do Recife: 1994 – Editora Brasília
Mutus Liber – O livro mudo da alquimia: 1995- Editora Attar
O Quilombo do Rio das Rãs: histórias, tradições, lutas: 1995 – EDUFBA
Poemas Místicos : 1996 – Editora Attar
Os Melhores Poemas de Amor da Sabedoria Religiosa de Todos os Tempos: 2001- Ediouro
A inclusão e a questão étnica do Brasil.: 2005 – Editora Attar
Saiba mais:
– Trecho do diálogo entre o professor com Mestres tupinambás sobre encantamento