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Histórias do povo daqui e dos povos de lá: que semelhanças e diferenças há?

voltar às notícias 18 de novembro de 2021
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Na última edição do Encontro Internacional Boca do Céu de Contadores de Histórias, realizada online em março de 2021, algumas questões foram apresentadas como “cenas dos próximos  capítulos” , a instigar os participantes a se prepararem para uma nova edição.

Um foco central  de todos os Encontros desde 2001 é a investigação sobre a natureza da Arte da Narração Oral  brasileira: suas raízes remotas, seus contos e outros tipos de manifestações da palavra na arte  popular tradicional e na cultura da infância, bem como a indagação sobre características dos narradores brasileiros tradicionais e urbanos contemporâneos. Olhar para essas questões implica em relacionar nossas culturas com as dos nossos vizinhos americanos , perguntando  sobre os traços que nos distinguem e nos assemelham.

Colonizados todos com todas as  consequências que nos atingem desde sempre, tivemos nossas ancestralidades subtraídas  arbitrariamente de nossa consciência de povo nativo, fomos obrigados a adotar as ideologias  de nossos colonizadores. Hoje buscamos recuperar as heranças ocultas , embora não perdidas  de nossos antepassados naquilo que podem nos ensinar.

E as perguntas surgem eminentes:  por que conhecemos tão pouco das culturas que formaram outros países do América do Sul?  Por que conhecemos tão pouco das histórias, lendas e mitos desses povos? O que essa herança  tem a ver com nossa herança brasileira? Por que conhecemos tão poucos artistas, tão poucos contadores de histórias dos nossos vizinhos de fala hispânica?

Imaginamos então um próximo passo do Boca do Céu na direção de trocar saberes ancestrais de nossa cultura brasileira com outros saberes de outros povos sul americanos. Com o intuito  de conhecermos melhor as manifestações orais dessas culturas e a partir daí aprofundarmos nossos conhecimentos da cultura popular brasileira e de ao mesmo tempo criar situações de  alargamento de horizontes de nossas crianças e seus pais para dissolver preconceitos,  discriminações e  focalizando  ambientes escolares frequentados por imigrantes.

Dentro do plano de etapas que concebemos para podermos desenvolver estas ações, vamos realizar um Encontro em dezembro 2021, de proporções bastante modestas, pautado pelos mesmos princípios  e questionamentos acima descritos em um espaço escolar da cidade de São Paulo, a EMEF INFANTE DOM HENRIQUE, conhecida como Espaço de BITITA (ver referências nas redes sociais do Boca do Céu), escolhido por ser uma escola pública exemplar de resistência, que busca bravamente há muitos anos realizar um ensino de qualidade voltado especificamente para a população que em geral habita o entorno da Escola, constituída substancialmente por imigrantes oriundos, em larga medida, da Bolívia e outros povos sul americanos, de países árabes e de origem africana e de imigrantes nordestinos.

Lutando com propostas inovadoras contra as desigualdades todas, a equipe de educadores liderada pelo diretor Cláudio Marques da  Silva Neto, tem trazido para a Escola uma posição de destaque e exemplo de excelência no exercício de práticas multiculturais que promovem a consciência do valoroso  pertencimento dos alunos a suas diferentes origens culturais.

A intenção que guia o projeto é provocar uma possível transformação da visão preconceituosa e estereotipada que temos no Brasil com relação a culturas de língua  hispânica da América do Sul- de países como a Bolívia, por exemplo- vigente em  diferentes segmentos da população de São Paulo e suas periferias, por meio do contato com histórias de vida e difusão de contos tradicionais orais oriundos dos territórios culturais de onde vem as famílias dos alunos da Escola onde será o Encontro Boca do Céu. Para que crianças e adultos  imigrantes possam ser vistos e incluídos de outras maneiras nas comunidades e  espaços escolares que brasileiros estrangeiros compartilham.

Estabelecemos uma parceria com o diretor e o corpo docente da Escola  para podermos pesquisar  características de seus alunos, de suas culturas tradicionais ancestrais, focalizando especialmente sua  herança de mitos, lendas e contos de tradição oral relacionados a suas línguas nativas.

Durante os dias 3 e 4 de dezembro será realizado presencialmente o Encontro Boca do Céu que propõe o convívio e troca de histórias e saberes  tradicionais entre os imigrantes dentro do espaço da escola, com rodas de conversa e narração  de contos e vivências pelo Grupo Tapetes Contadores de Histórias, que tem ampla pesquisa de contos de  países da América do Sul, bem como de outras atividades que visam promover diversos encontros entre educadores, alunos, seus pais e outros artistas contadores de histórias.

Regina Machado