A MOSCA DE MAIO

voltar aos contos 11 de agosto de 2021

Era uma mosca de maio, que como todos sabem, vive apenas um dia. Mal acabou de nascer, começou a voar, primeiro meio sem jeito, depois foi arriscando distâncias maiores.

Ia feliz da vida, com todo aquele mundo novo a ser descoberto. Entrou pela janela aberta de uma cozinha, que ficava justamente em um palácio real. Mas, de repente, caiu dentro do molho cremoso de uma panela. Era justamente o molho preferido da rainha, que o cozinheiro real tinha acabado de preparar com todos os requintes que ele sabia tão bem. Quando a mosca percebeu a enrascada em que havia se metido, começou a debater-se no maior desespero, mas não conseguia de jeito nenhum livrar suas asas. Então suplicou ao criador:

        Deus todo poderoso, não me deixe morrer assim. Eu acabei de nascer e o senhor sabe muito bem que tenho apenas o dia de hoje para viver. E ainda não conheci quase nada desse mundo. Por favor senhor, eu imploro que venha em meu socorro, utilizando seu poder misericordioso para me tirar daqui.

Nesse mesmo instante, o cozinheiro foi pegar a panela e viu aquele inseto detestável, segundo seu ponto de vista, boiando no meio da sua iguaria. Com uma colher comprida, de um só golpe, acertou na mosca e jogou-a longe.

    O que é que você esta fazendo no meu molho, sua mosca miserável!  ele gritou com seu vozeirão.  Ainda bem que percebi logo, senão você poderia estragar todo o trabalho que tive. Eu demorei um tempão para preparar esse molho de que a rainha gosta tanto.

A mosca caiu meio  zonza sobre a janela. Escutou feliz, aliviada e agradecida a voz poderosa do criador dizendo aquelas palavras que ela não conseguia entender, mas que lhe soavam fortes como o trovão.

Enquanto sacudia o molho das asas ela dizia:

      Obrigada, mil vezes obrigada por ter atendido meu pedido, senhor de todas as vidas.

E  rapidamente saiu voando janela a fora.

Quando encontrou um lugar seguro, segundo seu ponto de vista, pousou  numa folha de um arbusto bem no meio do jardim do palácio real, para descansar.

Lá ficou refletindo sobre sua sorte e pensou:

      Devo dedicar minha vida a um trabalho de salvar a humanidade fazendo o bem pelo resto dos meus dias. Mas estou um pouco exausta hoje pela experiência que passei.

Antes preciso descansar da atribulação desse dia tão miraculoso. Afinal eu senti a presença espetacular do criador, sua voz imperiosa eu escutei, sem dúvida, foi tudo tão intenso!

 Amanhã eu começarei minha tarefa, minha missão nesse mundo.

Essa observação final foi, é claro, absolutamente inútil e inadequada, porque como todos nós sabemos, a mosca de maio dura apenas um dia.

(transcrição de uma fita cassete com contos narrados por  Amina Shah)