Festa no Céu
voltar aos contosHouve uma grande festa no céu. São Pedro, que era muito festeiro, reuniu bicho de todo lugar. Tinha comida e bebida de sobra, e a festa era só diversão. Até que São Pedro ouviu um barulho esquisito e foi ver de onde vinha. Deu de cara com o sapo e se espantou, pois nunca tinha visto um bicho tão feio. Naquele tempo, o sapo andava em pé, igual gente.
São Pedro percebeu que ele estava muito alterado e chamou a sua atenção, ameaçando expulsá-lo do lugar. Mas o sapo, muito insolente, respondeu:
– Não, São Pedro, eu não vou sair daqui e ainda vou beber muito mais!
O santo ficou muito bravo e ordenou ao gavião que levasse o arruaceiro embora. E lá se foi o gavião com o sapo na cacunda.
Aí, começou a perturbação:
– Eco, que cheiro ruim é esse, seu gavião?
E o gavião, já perdendo a paciência, ameaçou:
– Cala boca, desaforado, ou eu te jogo lá embaixo!
– Ô, seu fedorento, por que você me soltou? Que injustiça – e foi caindo, caindo…
O sapo esparrachou num lajedo e quebrou os ossos que sustentavam as pernas. Desde esse dia ele passou a caminhar de quatro, aos pulos. Mas ainda mantém a cabeça levantada como que lembrado do lugar de onde foi expulso.
Samuel Pereira da Silva, Igaporã, Bahia
(Contos folclóricos brasileiros, Marco Aurélio – Editora Paulos – São Paulo)