O nome da árvore – Recontado por Celia Barker Lottridge (1989)

voltar aos contos 18 de março de 2021

Há muito tempo, numa terra onde havia uma vegetação muito baixa, estava acontecendo uma grande fome. A chuva não caia, nenhuma vegetação crescia e todos os animais, a gazela, a girafa, o macaco, o coelho, a tartaruga, a zebra, até o avestruz, estavam morrendo de fome.

Eles foram procurar na selva, procuraram no rio, procuraram na grande planície, mas não conseguiram encontrar nada para comer. Finalmente os animais se juntaram e disseram:

– Vamos juntos através dessa grande planície, ver se conseguimos encontrar alguma coisa pra comer?

E assim os animais, menos o leão é claro, porque o leão era o Rei, ele vivia no meio da selva,  rondando e andando pela floresta o tempo todo,  ele ficou sozinho naquela terra vazia. Os outros animais andaram, andaram, andaram, e depois de muitos dias eles encontraram uma espécie de  corcova no final da planície, era como se fosse um pequeno monte, só que a medida que eles foram chegando aquilo que eles tinham visto lá de longe, era uma árvore e essa árvore era muito alta. A árvore tinha frutas, e eles nunca tinham visto essas frutas antes. Elas eram vermelhas como maçãs, amarelas como bananas, verdes como melões, violetas como ameixas e eram também amarelas como mangas, elas tinham um perfume tão gostoso, era como se fosse o perfume de todas as frutas do mundo. Acontece que essa árvore era muito, mas muito alta, e seus galhos tão altos que mesmo a girafa não conseguia pegar uma fruta sequer. O tronco era tão liso, tão escorregadio que nem o macaco conseguia subir para pegar as frutas lá em cima.

Os animais se sentaram no chão e começaram a chorar, porque aquela fruta tinha um perfume tão bom, e eles estavam famintos. Cansados de tanto chorar, uma velha tartaruga falou:

– Ó animais, a minha trisavó me contou uma história sobre essa árvore maravilhosa. A fruta dessa árvore era deliciosa e muito boa pra comer, mas acontece que só poderiam alcançar essa fruta aquelas pessoas que soubessem o nome da árvore.

– Quem pode dizer pra gente o nome dessa árvore? – disseram os animais.

A velha tartaruga respondeu:

– O Rei sabe, a gente tem que mandar alguém para perguntar pra ele.

– Eu vou! – disse a gazela – eu sou a mais rápida corredora de todos nós!

Isso era verdade, então a gazela começou a correr através da grande planície chata.

Ela correu como uma flecha, e enquanto ela corria ela pensava:

– Como esses animais são sortudos porque eles tem a mim, eu que me dispus a falar com o Rei, e ninguém pode correr tão rápido quanto eu.

Logo a gazela chegou na selva onde o leão morava, um lugar perto de um rio.

O Rei estava sentado, com sua longa cauda muito bem enrolada em volta dele, e cada fio de sua juba dourada e brilhante estava arrumadinho. Ele falou de uma forma muito delicada com a gazela:

– O que você quer de mim?

– Ó senhor grande rei – disse a gazela – todos os animais estão famintos, e nós encontramos uma árvore com umas frutas deliciosas, mas nós não podemos comer as frutas sem que a gente saiba o nome da árvore.

– Eu vou dizer para você – disse o leão – mas você tem que se lembrar, porque eu não quero falar isso de novo pra ninguém mais, o nome da fruta é Ungali.

– Ungali! Eu vou correndo tão rápido quanto o vento, e vou encontrar a árvore antes que eu possa esquecer o nome dela.

E a gazela agradeceu o Rei e começou a correr através da selva, através da planície, e foi pensando como os animais ficariam felizes e agradecidos dela ter descoberto o nome da árvore, ela pensou tanto nisso que não viu que no meio do caminho, não muito longe de onde os animais a estavam esperando, tinha um buraco parecido com uma toca de coelho. A gazela tropeçou naquele buraco, caiu e foi rolando arrastando galhos, folhas, tudo o que tinha no caminho. Quando a gazela chegou perto os animais perguntaram qual era o nome da árvore. A gazela se levantou, sacudiu a cabeça, sacudiu de novo, mas o nome tinha desaparecido da cabeça dela.

– Eu não consigo me lembrar – ela falou baixinho

Os animais ficaram bravos.

– O que podemos fazer? Vamos ter que mandar outro animal, alguém que não se esqueça, não é mesmo?

– Eu vou! – disse o elefante – eu nunca esqueço de nada.

Os animais concordaram porque era verdade. O elefante começou a correr através da grande planície.

– Eu não vou esquecer – ele disse pra si mesmo – eu lembro de tudo o que eu quiser, até o nome de todos os meus primos. – o elefante tinha centenas de primos. – ou o nome de todas as estrelas do céu.

Quando o elefante chegou na beira do rio, o Rei estava sentado no lugar de sempre, mas a cauda dele não estava tão arrumada como antes, e a juba estava um pouco desmanchada.

– O que é que você quer? – disse o leão

– Ó Rei, todos os animais estão com fome – disse o elefante

– Eu sei, e você quer saber o nome da árvore que tem a fruta maravilhosa. Eu vou dizer pra você, mas por favor não se esqueça que eu absolutamente não vou mais falar para ninguém. O nome da fruta é Ungali.

– Eu não vou me esquecer, eu nunca esqueço de nada.

Correndo o elefante cruzou a selva e a planície, no caminho ele pensava:

– Esquecer, eu esquecer imagina. Eu sei o nome de todas as árvores dessa selva.

E o elefante começou a falar o nome das árvores da selva, não só daquela selva mas como da África inteira. Quando o elefante começou a nomear as árvores do mundo inteiro, ele se aproximou da toca de coelho na qual a gazela tropeçou e se espatifou no chão. A pata do elefante cabia exatamente dentro do buraco, a hora em que ele enfiou a pata no buraco não conseguia tirar de jeito nenhum.

Os animais que estavam embaixo da árvore, viram que ele estava lá e correram até ele para perguntar o nome da árvore.

O elefante estava muito preocupado em tirar sua pata de dentro do buraco. Depois de diversas tentativas, poc! O elefante conseguiu tirar a pata de dentro do buraco.

– Eu não consigo me lembrar, e quer saber de uma coisa? Eu nem me importo, essa árvore já causou muito problema.

Os animais nem ficaram bravos, eles estavam muito cansados e com muita fome.

Depois de um longo tempo, uma jovem tartaruga falou:

– Ó animais, eu vou encontrar o nome da árvore.

– Você? – disseram os animais – mas você é muito jovem, tão pequena, e além de tudo você é tão lenta.

– É, mas acontece que eu sei como me lembrar. Eu aprendi com a minha trisavó, aquela que contou pra vocês sobre aquela árvore.

Os animais não tinham nada pra falar, e a pequena tartaruga já estava a caminho, é claro que ela era muito lenta, mas com uma perninha atrás da outra, depois de um tempão ela atravessou a planície e chegou no lugar perto do rio onde o Rei morava.

O Rei não estava sentado no lugar de sempre, estava na beira do rio andando de um lado para o outro e abanando seu rabo. Quando ele viu aquela pequena tartaruga ele falou:

– Se você veio aqui pra perguntar o nome da árvore, pode voltar para casa. Eu já falei pra gazela, já falei pro elefante, e eu não vou dizer pra você que o nome da árvore é Ungali.

A tartaruga pequenininha, ficou muito feliz, agradeceu o Rei fazendo sinal com a cabeça e voltou, uma perninha na frente da outra, uma perninha na frente da outra, saiu da selva, e na medida que ela ia andando ela dizia para ela mesma:

– Ungali, Ungali, o nome da árvore é Ungali, Ungali, Ungali, o nome da árvore é Ungali, Ungali, Ungali, o nome da árvore é Ungali.

Enquanto ela atravessava lentamente a planície ela não parava de dizer:

– Ungali, Ungali, o nome da árvore é Ungali, Ungali, Ungali, o nome da árvore é Ungali.

Ela não parou de repetir, mesmo quando ela estava cansada, mesmo quando ela estava com sede, pois foi aquilo que a trisavó dela havia ensinado. Quando ela caiu na toca do coelho, ela seguiu dizendo:

– Ungali, Ungali, o nome da árvore é Ungali, Ungali, Ungali, o nome da árvore é Ungali.

Nenhum dos animais viu que a pequena tartaruga estava chegando, eles estavam sentados em volta da árvore olhando para o chão. A tartarugazinha foi chegando bem perto da árvore, olhou lá pra cima e falou numa voz muito alta:

– O nome da árvore é Ungali.

Os animais olharam e viram que os galhos da árvore começaram a se abaixar, bem baixinho, de tal modo que cada um deles podia pegar aquela fruta maravilhosa, que era vermelha como maçã, amarela como banana, verde como um melão, violeta

como a ameixa, e era também amarela como manga, e tinha um perfume tão gostoso como todas as frutas do mundo.

Os animais comeram, comeram tanto até não conseguir mais. Eles pegaram a tartaruga no colo e rodaram em volta da árvore cantando:

– Ungali, Ungali, o nome da árvore é Ungali, Ungali, Ungali, o nome da árvore é Ungali.

Eles cantaram para nunca mais esquecer o nome da árvore, e eles nunca esqueceram.

 

The name of the tree. Recontado por Celia Barker Lottridge (a partir de uma versão da tradição Bantu). 1989, Groundwood Books, Toronto