Convidadas 2018: Charlotte Alston (EUA)
voltar às notíciasFoto: Deborah Boardman
A cor, a voz: Charlotte Alston
Ela conta histórias em escolas, museus, teatros, campos de refugiados, sofisticadas salas de concerto, rádio, televisão e em festivais de narração oral do oeste africano, Canadá e Estados Unidos da América. Considerada representante de destaque da voz negra em seu país, Charlotte Blake Alston, americana da Filadélfia, será uma das estrangeiras presentes no Boca do Céu 2018.
Charlotte impressiona com ritmo e respiração, modulações da voz, gradação rigorosa da força e energia dos gestos, precisão nas palavras e vivacidade no olhar, recursos cultivados em anos de diligentes estudos, com mestres da Tradição africana e pela necessidade de se fazer ouvir enquanto mulher, negra cuja voz busca superar preconceitos e lutar por uma sociedade igualitária.
Compartilhando sua voz potente e o repertório de contos africanos e afro-americanos com a música erudita ocidental, além de tocar instrumentos tradicionais africanos, Charlotte compõe letras para ópera e empresta sua voz à narração de séries educacionais e documentários de ampla repercussão nos Estados Unidos da América.
Charlotte acredita que a infância nos anos cinquenta, no ambiente fechado da família e da comunidade religiosa que valorizava e o forte laço que teve com seu pai foram o pano de fundo que a levaram a tornar-se a contadora de histórias que se formou a partir do final dos anos de 1980.
Veja um conto narrado por Charlotte Alston no link:
http://www.charlotteblakealston.com/media/
Veja o que Charlotte nos contou em uma breve entrevista sobre seu relacionamento com o conto.
Como foi seu primeiro contato com a narrativa oral?
Meu primeiro contato com narrativa oral foi em minha infância. Meu pai tinha uma paixão pela linguagem, pela leitura e escrita. Às vezes, quando ele tentava tirar um tempo para escrever (sem as 5 crianças e esposa) ele ia para seu quarto e fechava a porta. Eu era a “filhinha do papai”, tanto que abria a porta e sentava quieta, só para ficar perto dele. Ele começou a ler em voz alta para mim algumas das obras literárias que ele lia sozinho. Ouvi as vozes de poetas e escritores Afro-Americanos. Quando eu tinha uns 6 anos de idade, ele me deu o “Complete Poems of Paul Laurence Dunbar” e escolheu um poema para eu ler. Eu o li várias vezes, até memorizá-lo. Quando ele viu o quão rápido eu memorizei o poema, ele começou a escrever monólogos cômicos de 7-10 minutos para eu aprender e recitar. Comecei a me apresentar para pessoas com meus 6 ou 7 anos, recitando passagens de poesia e seus monólogos originais.
De que forma suas experiências disseminando histórias em várias formas e contextos contribui para o seu papel como contadora de histórias?
As histórias não teriam sentido ou impacto sem os ouvintes; sem as pessoas cuja presença me ajuda a dar vida à história, a fazê-la nova, e continuar a tradição de fazer conexões humanas através de fronteiras geográficas, étnicas, culturais e de classe, barreiras feitas pelo homem. Cada experiência, cada novo público oferece uma oportunidade de celebrar nossa individualidade E ressaltar nossos pontos em comum como seres humanos através das histórias. Histórias celebram e validam nossa humanidade.
Como é o seu preparo para contar uma história?
Primeiramente, sou atraída por histórias que me tocam de certa forma. Atraída principalmente – mas não exclusivamente – pelos contos tradicionais. Eu vou “conviver” com a história às vezes por semanas, meses ou até anos até que eu possa contá-la na minha própria “voz” de contadora de histórias. Às vezes, se trata-se de uma história cuja origem étnica ou cultural foi identificada, eu encontro uma forma de falar com alguém daquela cultura ou país para entender os detalhes sobre a cultura, história e linguagem daquele povo que possam me ajudar a manter sua autenticidade. Em algumas situações, eu posso precisar adaptar a linguagem de uma história para públicos não familiarizados com certas referências culturais ou expressões. Em certo ponto, eu faço um rascunho escrito, ou gravo a leitura da história para que eu possa ouvir como ela – sua estrutura, linguagem e abordagem – soa. Esta história faz sentido cronologicamente? Seus personagens são bem definidos? Há uma progressão lógica dos eventos? Os altos e baixos emocionais ou a intensidade ou as mudanças na ação estão bem transmitidas pela voz? Eu ouço e convivo com a história tempo o bastante para me sentir confortável com a primeira narração oral em frente ao palco. Após esta primeira narração, eu continuo a crescer dentro da história; dentro do contar e eventualmente alcanço um lugar que parece “perfeitamente certo”.